O Cruzeiro Esporte Clube , mais conhecido apenas como Cruzeiro e apelidado de Raposa e Cabuloso, é um time de futebol com sede em Belo Horizonte, Minas Gerais.
Fundado há mais de 100 anos, é considerado um dos maiores clubes não só do Brasil, mas também da América do Sul. Então, se prepare, pois chegou o momento do Roteiro por Estádios te contar a história do Cruzeiro.
O Palestra Itália de Minas
Escudo Palestra Itália
A história do Cruzeiro começou em 2 de janeiro de 1921, mas com o nome de Società Sportiva Palestra Itália e com as cores verde, vermelho e branco que remetem à bandeira da Itália.
Como é de se imaginar, tudo começou dessa forma porque clube foi fundado em Belo Horizonte por desportistas da colônia italiana.
Logo no ano seguinte, o clube comprou um terreno que pertencia à prefeitura (atual Parque Esportivo do Cruzeiro) e, em setembro de 1923, inaugurou o estádio que foi construído por jogadores e associados no Barro Preto.
O Palestra Itália se destacou não somente pelos descendentes de italianos, mas também pelos elementos da classe trabalhadora da cidade. O seu corpo social contava com pedreiros, policiais, pintores, comerciários, médicos, escritores, políticos, empresários, dentre outras profissões dos imigrantes que fizeram parte da história e da construção de Belo Horizonte.
Inicialmente, o clube só permitia a participação de membros da colônia italiana e, consequentemente, pessoas brancas. Foi somente em 1925 que essa cláusula foi retirada do estatuto, abrindo as portas para a inscrição de atletas e associados de qualquer origem.
Não demorou muito para o Palestra Itália ganhar destaque, já que sua primeira conquista significativa foi o Tricampeonato Mineiro (1928, 1929 e 1930). Com todo o crescimento do clube, os outros times da época precisaram se organizar e, juntos, criaram a Associação Mineira de Esportes em 1933.
Os percalços para um novo nome
Uniforme azul e branco do Cruzeiro Foto: Acervo/ Cruzeiro
Quando o Palestra Itália abriu espaço para membros que não fossem de origem italiana, surgiu um movimento de nacionalização para alteração do nome do clube a partir de 1936.
O movimento conhecido como “Ala Renovadora” sofreu bastante resistência, mas acabou conseguindo alterar o nome para “Renovadora Football Club”. O clube até realizou alguns treinos com esse novo nome, porém, não demorou muito para rejeitarem a ideia.
Essa questão do nome veio à tona novamente em 30 de janeiro de 1942, quando o Presidente Getúlio Vargas se declarou contra os países do Eixo na Segunda Guerra Mundial (Itália, Alemanha e Japão) e proibiu o uso de termos referentes a essas nações.
Após a publicação deste Decreto-Lei, o clube realizou uma partida contra o Atlético-MG em 1 de fevereiro de 1942 e usou um uniforme sem escudo e sem nome, a camisa era azul e tinha três listras brancas horizontais.
Três dias depois, o nome “Palestra Mineiro” foi adotado de forma provisória. Em 2 de outubro de 1942, houve mais uma mudança: o clube passaria a se chamar Ypiranga em homenagem ao local onde proclamaram a Independência do Brasil.
Mas, sabemos que não parou por aí. Apenas alguns dias depois, a diretoria do clube se reuniu mais uma vez e adotaram o nome que conhecemos até hoje: Cruzeiro Esporte Clube. A ideia era homenagear a constelação Cruzeiro do Sul que é um símbolo nacional.
Com essa mudança, o uniforme passou a ser azul para homenagear a cor oficial da residência da realizada italiana. Dessa forma, o clube teria elementos que honrassem tanto o Brasil quanto a Itália.
A primeira partida com o novo nome aconteceu no final de 1942, onde o Cruzeiro venceu o América por 1 a 0.
Recuar para avançar
Cruzeiro campeão da Taça Brasil de 76 Reprodução: ESPN
Com um novo nome, o Cruzeiro garantiu o Tricampeonato Mineiro mais uma vez (1943, 1944 e 1945) e reformou a sua casa que passaria a se chamar Estádio Juscelino Kubitschek em homenagem ao então governador de Minas Gerais.
Infelizmente, nem tudo são flores e o clube passou a ter dificuldades financeiras. Em 1952, o Cruzeiro precisou dispensar os profissionais e promover os juvenis, passando a atuar em um regime semi-amador.
Em contrapartida, ao disputar amistosos estaduais em troca de cachês, o clube conseguiu conquistar torcedores em diversas cidades no interior e, aos poucos, foi se tornando o mais popular de MG.
Com as finanças em ordem e a construção da sede social no Barro Preto, a Raposa voltou a se destacar e formou o time que viria a ser Tricampeão Estadual entre 1959 e 1961.
Em 1965, foi inaugurado o famoso Estádio Mineirão e, com isso, o futebol mineiro passou a fazer parte das competições nacionais.
O primeiro clássico entre Cruzeiro e Atlético-MG no estádio aconteceu no mesmo ano. A partida foi tensa: foram 30 minutos de paralisação após um lance polêmico e 9 jogadores expulsos. O time atleticano abandonou o estádio antes do fim do jogo e o Cabuloso acabou ficando com o título estadual daquele ano.
Foi assim que começou a “Era Mineirão”, um período de vitórias para o Cruzeiro que acabou conquistando o pentacampeonato estadual de 1965 a 1969 e o título da Taça Brasil de 1966.
Décadas de 70 e 80
Cruzeiro campeão da Libertadores de 1976
A década de 70 ficou marcada por dois vice-campeonatos no Brasileirão. O primeiro foi em 1974 quando a Raposa perdeu para o Vasco e, o segundo, quando perdeu para o Internacional em 1975.
Mas os anos 70 ainda guardavam um grito de vitória para a torcida celeste: em 1976, o Cabuloso conquistou seu primeiro título na Taça Libertadores da América sobre o River Plate (Argentina).
No ano seguinte, o clube chegou novamente à final da Libertadores, mas perdeu nos pênaltis para o Boca Juniors, também da Argentina.
Nesse mesmo período, o Cruzeiro realizou amistosos no exterior em troca de cachês em dólar para evitar problemas financeiros e manter os jogadores que brilharam e conquistaram o Tetracampeonato Mineiro de 1972 a 1975.
Entretanto, isso não foi suficiente para evitar a crise financeira que viria na década de 80. O clube ganhou apenas 2 estaduais (1984 e 1987) e não teve bons resultados no Campeonato Brasileiro. Mas, para a alegria da torcida celeste, isso estava prestes a mudar.
Uma sequência cabulosa
Cruzeiro Campeão Brasileiro de 2003 Foto: Acervo/Cruzeiro
Apesar da década anterior não ter sido muito positiva para o clube, os anos 90 chegaram com uma sequência incrível de 15 anos com pelo menos um título por ano. Foram eles:
Supercopa da Libertadores (1991 e 1992)
Recopa Sul-Americana (1998)
Copa do Brasil (1993, 1996, 200 e 2003)
Copa de Ouro Nicolás Leoz (1995)
Copa Master da Supercopa (1995)
Copa Sul-Minas (2001 e 2002)
Campeonato Mineiro (1990, 1992, 1994, 1996, 1997, 1998, 2003 e 2004)
Copa Centro-Oeste (1999)
Copa dos Campeões Mineiros (1991 e 1999)
Supercampeonato Mineiro (2002)
Libertadores da América (1997)
Campeonato Brasileiro (2003)
Dentre tantos anos vitoriosos, um grande destaque foi 2003, quando o Cabuloso conquistou a inédita “Tríplice Coroa” ao vencer o Campeonato Estadual, a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro sob o comando do técnico Vanderlei Luxemburgo.
A campanha no Campeonato Brasileiro foi de tirar o chapéu, afinal, o Cruzeiro marcou mais de 100 gols e conquistou o título com 4 rodadas de antecedência (essa foi a primeira edição de pontos corridos).
Depois de alcançar o feito inédito no Brasil de ganhar pelo menos um título por temporada durante 15 anos, algo que só havia sido feito pelos times europeus Real Madrid e Manchester United, a sequência chegou ao fim.
Em 2005, o clube celeste chegou à final do Campeonato Mineiro, mas perdeu para o Ipatinga. Os anos seguintes não tiveram grande destaque, exceto pela conquista dos estaduais em 2006, 2008 e 2009.
Para finalizar os acontecimentos dessa década, em 14 de julho de 2008, o então prefeito de Belo Horizonte sancionou a Lei que estabelece “O Dia do Cruzeiro e o Dia do Cruzeirense” e é comemorado em 2 de janeiro.
Uma fase irregular
Cruzeiro campeão Brasileiro de 2013/2014
2010-2014
A temporada de 2010 começou regular: o clube ficou em 3º lugar no estadual, chegou às quartas-de-final da Libertadores e foi vice-campeão brasileiro. Neste mesmo ano, a CBF declarou o bicampeonato brasileiro do Cruzeiro ao considerar a conquista da Taça Brasil de Futebol de 1966.
No ano seguinte, a Raposa começou com uma ótima campanha na Libertadores, mas perdeu de forma lamentável para o Once Caldas (Colômbia) e deixou a competição.
Ainda abalado pela derrota, o clube precisou disputar o jogo de ida da final do Campeonato Mineiro apenas 4 dias depois. Para deixar o clima ainda mais tenso, o rival era o Atlético-MG que venceu a primeira partida por 2 a 1.
No jogo de volta na semana seguinte, a equipe conseguiu se superar e venceu a partida por 2 a 0, garantindo o título estadual.
Já no Campeonato Brasileiro, o desempenho não agradou. A maior parte do torneio foi uma luta para fugir da zona de rebaixamento, algo que só não aconteceu porque, na última partida, o Cabuloso enfrentou o Atlético-MG e garantiu a vitória com a segunda maior goleada da história do clássico: 6 a 1.
Apesar da desconfiança da torcida em relação às mudanças realizadas pela diretoria, o Cruzeiro foi Bicampeão Brasileiro de 2013 e 2014. Além disso, o clube foi Campeão Mineiro em 2014 e chegou à final da Copa do Brasil.
2015-2019
Os anos de 2015 e 2016 contaram com campanhas fracas e nenhum título. Em 2017, a Raposa perdeu a final do Campeonato Mineiro para o arquirrival Atlético-MG e, na sequência, veio também a eliminação da Copa Sul-Americana.
Entretanto, o clube conseguiu ser campeão da Copa do Brasil mais uma vez, ao eliminar equipes como São Paulo, Chapecoense, Palmeiras e Grêmio, até chegar na final contra o Flamengo.
No ano seguinte, em 2018, a torcida celeste também teve bons motivos para comemorar. O Cabuloso conquistou mais um Campeonato Mineiro e a segunda Copa do Brasil consecutiva.
Infelizmente, não podemos dizer o mesmo sobre 2019. Apesar de ter vencido o Campeonato Estadual e ter tido uma boa campanha na fase de grupos da Libertadores, as irregularidades dentro e fora de campo fizeram o clube ser rebaixado pela primeira vez no Campeonato Brasileiro.
Dentre as irregularidades, estava uma investigação da Polícia Civil sobre o uso de empresas de fachada para ocultar crimes cometidos dentro do clube. Outro marco infeliz nesse período, foi a partida contra o Palmeiras em 8 de dezembro de 2019, que precisou ser encerrada antes do jogo acabar devido à violência e revolta por parte da torcida cruzeirense.
A Era Ronaldo
Ronaldo, dono da SAF Cruzeiro Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)
Os anos de 2020 e 2021 ficaram marcados pelas crises e acúmulo de dívidas. Na maior parte das duas temporadas, o Cruzeiro lutou contra o rebaixamento para a Série C do Campeonato Brasileiro.
Os ares de mudança começaram a chegar em 18 de dezembro de 2021. Após o término da temporada, o ex-jogador e ídolo do Cruzeiro, Ronaldo Nazário, comprou a SAF do clube.
Essa compra veio acompanhada de uma grande mudança no planejamento e revitalizações em todas as áreas do clube. Como resultado, em 2022, a Raposa conquistou o título da Série B com 8 rodadas de antecedência, batendo o recorde como o time que conseguiu o acesso mais rápido à Série A desde 2006 com a implantação dos pontos corridos.
Com o acesso garantido antecipadamente, o Cruzeiro voltou para a elite do futebol nacional. Agora, é acompanhar os próximos capítulos para saber o que a Era Ronaldo reserva para a torcida celeste.
Antes de finalizar a história do Cruzeiro, eu não poderia deixar de contar a origem do mascote do clube: a Raposa.
O responsável pelo desenho foi o chargista Fernando Pieruccetti, que também desenhou os mascotes de outros clubes mineiros, como o América e o Atlético.
Em 1945, a inspiração veio do ex-presidente do clube (Mário Grosso) que era conhecido por sua esperteza e astúcia no comando dos negócios e também pelo fato da raposa se alimentar de galináceos (eu sei qual rival veio à sua mente).
E aí, gostou desse conteúdo? Se você quer conferir as histórias de outros clubes e seus respectivos estádios, não deixe de acessar meu canal no YouTube e de me seguir nas redes sociais (Instagram e Tik Tok ).
Até a próxima!
História do Cruzeiro – Parte 1
História do Cruzeiro – Parte 2